Se não gostam, o que é que lá vão fazer?
Chamemos-lhe idiotas. Talvez grunhos. Podem ser apenas pessoas desesperadas por uma vida que não lhes sorri e que descarregam na experiência de ver um jogo todas as suas emoções negativas. Mas talvez sejam só engraçadinhos, sentindo-se legitimados pelo discurso de ódio, raiva e pretensa rivalidade que prolifera pela internet.
É injusto dizer que este é um fenómeno atual. Monica Seles foi esfaqueada durante um jogo de ténis em 1993. E em 2008, depois de um árbitro assistente não ter assinalado posição irregular ao portista ex-benfiquista Cristián Rodríguez, o apelidado Diabo de Gaia decidiu ser videoárbitro por conta própria e invadiu o relvado da Luz para «fazer justiça». As aspas são minhas.
Estes dois exemplos são de memória mas certamente que haverá mais, recentes ou antigos. O certo é que esta semana fomos invadidos por dois momentos que têm tanto de escandalosos como de manifestadores de uma terrível sensação de que poderemos estar a caminhar para um universo em que as pessoas, contaminadas por discursos, deixam de ser capazes de se comportar.
Houve o episódio durante o dérbi de Birmingham. Inglaterra gosta de apregoar o fair-play mas a história demonstra que casos de violência não são isolados. A diferença é que costumam ser nas ruas francesas durante um Mundial, em finais europeias ou em qualquer outra situação. Desta vez, Paul Mitchell sentiu que podia fazer ainda pior, entrou no relvado e agrediu um jogador do Aston Villa. Resultado? Banido de estádios por dez anos e preso durante 14 semanas, um pouco mais de três meses.
O que nos vale é que do outro lado do oceano, nos Estados Unidos, os norte-americanos sabem como viver o desporto, Sobretudo na NBA, onde o respeito pelas vedetas da liga é máximo e tudo corre às mil maravilhas. Pois, era bom que assim fosse, mas na verdade deixou de haver bastiões de moralidade.
Esta semana não houve agressões – é preciso ter muita coragem e não é qualquer um que se vira a um gigante dos cestos – mas um adepto dos Utah Jazz decidiu fazer de Russell Westbrook a sua vítima. O adepto teve os seus momentos de glória, com constantes insultos, mas a fama que lhe está associada agora é tudo menos positiva
Os Utah Jazz não gostaram da situação e decidiram banir definitivamente o agressor. «Os Utah Jaz não vão tolerar fãs que atuam de forma inapropriada. Não há espaço no nosso desporto para ataques pessoais ou desrespeitos.»
A nota divulgada pela equipa vai um pouco mais longe: «Toda a gente merece a oportunidade de ver e disputar um jogo num ambiente seguro, positivo e inclusivo». É assim que devia ser sempre. É assim que muitas vezes não é.
Há gente que faz dos eventos desportivos o seu culto de ódio. E assim é há décadas. Sejam os atos de hooliganismo que proliferaram na era de Honecker na RDA ou os sucessivos cânticos xenófobos dos adeptos dos Rangers contra irlandeses e católicos, os exemplos são mais do que muitos. Escondida por baixo de um manto de rivalidade, continua a haver gente que odeia o desporto e que faz destes eventos um festival de impropérios e insultos ao outro lado.
Por cá, continuamos a ter ironias com mortes de antigos jogadores e adeptos, provocações insultuosas e um ambiente que não faz muito mais do que refletir o ambiente podre que se vive entre aqueles que deviam dar o exemplo.
Em Inglaterra e na NBA, não houve contemplações. Se há gente que demonstra que não tem capacidade para estar num evento desportivo, é castigada e não volta a pôr lá os pés. Não é muito difícil de perceber o recado: se não gostam, se não fazem por aproveitar (o que deve ser aproveitado), o que é que vão lá fazer? Pudesse ser assim em todo o lado.