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É Desporto

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31 de Janeiro, 2019

Ernie Davis. O Expresso de Elmira foi travado pela leucemia

Rui Pedro Silva

Ernie Davis era imparável com a bola

No início da década de 1960, Martin Luther King Jr. já era um ativista político interventivo nos Estados Unidos, mas ainda não tinha revelado o mais famoso sonho mundial, guardado para agosto de 1963. No entanto, em Nova Iorque, Ernie Davis, um jogador de futebol americano da equipa da Universidade de Syracuse, já quebrava algumas das maiores barreiras raciais do país.

 

Num desporto praticamente fechado aos atletas afro-americanos, o Expresso de Elmira, como ficou conhecido, aproveitou a irreverência do treinador Ben Schwartzwalder, que desafiou a ordem que parecia imperar no futebol americano universitário. Ao todo, os Orangemen tinham três jogadores de origem africana, mas era Ernie Davis quem mais se destacava.

 

O running back chegou à universidade em 1959, com a responsabilidade de suceder a Jim Brown, ainda hoje considerado um dos melhores jogadores da NFL. Numa equipa sem títulos, Schwartzwalder percebeu o potencial de Davis e estruturou toda a estratégia da equipa em torno dele. Por todos os Estados Unidos, Ernie Davis começou a ser visto com outros olhos, assumindo também um papel de destaque na luta pela igualdade.

 

Os mais jovens viam-no como um herói e acreditavam que, mesmo sem nunca se ter manifestado publicamente, poderia ajudar a quebrar barreiras. Em campo, o ano de 1959 foi brilhante para a equipa de Syracuse. Depois de uma temporada regular sem derrotas, os Orangemen discutiram o título de campeão universitário, nos primeiros dias de 1960, frente aos Texas Longhorns, no Cotton Bowl.

 

Ernie Davis esteve igual a si mesmo e teve um papel fundamental no triunfo por 23-14. Nos anos seguintes, deixou de ser uma surpresa e já não havia preconceitos que o impedissem de ser considerado um dos melhores atletas do desporto universitário. Finalmente, em 1961, tornou-se o primeiro afro-americano a conquistar o Heisman Trophy, prémio para o melhor jogador da época.

 

A fama de Ernie Davis alastrou e em 1962 foi a primeira escolha do draft da NFL, abrindo-se a oportunidade de jogar ao lado de Jim Brown nos Cleveland Browns. Contudo, o pior estava para vir. Durante um treino em 1962, sentiu que estava a perder as forças e uns meses depois, no verão, foi-lhe diagnosticada uma leucemia.

 

Os sinais da doença não eram visíveis e uma carreira na NFL continuava em aberto. Já em 1963, Ernie Davis escrevia num artigo publicado no Saturday Evening Post: «Para mim, 1962 foi um ano longo e espero que não tenha de passar por outro assim novamente. Sinto que já consegui enfrentar os meus problemas e agora penso apenas no futuro, preparando-me para o que aí vem como se nada tivesse acontecido.» Morreu 49 dias depois.