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É Desporto

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22 de Janeiro, 2019

Stanley Ketchel. O irónico fim do Assassino do Michigan

Rui Pedro Silva

Stanley Ketchel inconsciente no combate com Jack Johnson

Sugar Ray Robinson, Muhammad Ali, Mike Tyson e Evander Holyfield são nomes que nos habituámos a ler e reconhecer como grandes figuras do boxe. E um norte-americano de origem polaca chamado Stanley Ketchel? É natural que o nome diga pouco. Afinal de contas, morreu em 1910 e o melhor que conseguiu foi um título de pesos-médios num total de 64 combates e 51 vitórias (48 por KO).

 

O palmarés pode não ser o mais impressionante, mas é preciso ter em conta que o fez até aos 24 anos, altura em que foi assassinado. Mas já lá vamos, esta história é a de um assassino, o do Michigan, e não tanto a de um assassinato.

 

Nascido em 1886, em Grand Rapids, no Michigan, Ketchel começou a combater pouco depois dos 15 anos, quando saiu de casa. Apesar de considerado um “menino da mamã”, Stanley partiu à aventura até ao Montana. O dono do bar onde trabalhava organizava combates e, ao aperceber-se da paixão de Ketchel, incluiu-o no programa. Foi assim que em 1903 Stanley teve uma entrada triunfante nesse mundo. O adversário era Kid Tracy, mas não teve tempo para o conhecer. Ketchel entrou no ringue, deitou-o abaixo no primeiro round e alcançou a primeira de muitas vitórias.

 

O seu estilo era mesmo assim: repentino, agressivo e demolidor. Bert Randolph Sugar, historiador de boxe, define-o como «um animal no ringue». «Com os dentes cerrados e olhos raivosos, parte para o adversário e não descansa enquanto não dá cabo dele. É um daqueles lutadores do tempo dos Neandertais, que dão um golpe no adversário no ringue e já estão de volta ao balneário antes que ele caia. Tinha confiança na sua força», acrescenta.

 

Há ainda quem diga que Ketchel tinha um método muito peculiar: imaginava que a mãe tinha sido insultada pelo adversário. A mãe foi sempre uma das grandes paixões da sua vida e a razão das últimas palavras antes de morrer: «Sinto-me cansado. Levem-me para perto da minha mãe».

 

Ketchel só morreu em 1910, mas foi um ano antes que a vida começou a mudar, num combate contra o campeão de pesos-pesados Jack Johnson, o mesmo que levou John McCain a pedir a Barack Obama que lhe fosse perdoado um crime postumamente. O combate de exibição estava combinado e o objetivo era durar até ao fim, para criar mais lucro. Mas Ketchel fartou-se e deitou Johnson ao chão com um golpe inesperado. O adversário levantou-se e respondeu na mesma moeda: deixou Ketchel inconsciente e sem um dente.

 

Ketchel esteve vários meses sem combater e em setembro de 1910 aceitou o desafio do amigo Rollin Dickerson para trabalhar no seu rancho. Foi lá que conheceu Goldie Smith e Walter Smith, responsáveis pela sua morte. A primeira serviu-lhe o pequeno-almoço numa cadeira diferente da habitual para estar de costas para a porta onde o segundo entraria para o matar com um tiro de pistola que lhe perfurou um pulmão.

 

Porquê? Não gostou de ser repreendido por ter tratado mal um cavalo. Em tribunal, no entanto, Goldie Smith acusou Ketchel de a ter tentado violar, mas não evitou a condenação de ambos. Dickerson fez tudo para salvar a vida do amigo e fretou um comboio para o levar ao hospital de Springfield, mas não conseguiu evitar a sua morte durante o caminho.