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É Desporto

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15 de Janeiro, 2019

Adam Vinatieri. Falhar onde se tornou lenda

Rui Pedro Silva

Adam Vinatieri fez história em 2002

Tem 46 anos e está na NFL desde 1996. É o kicker mais famosos na história da modalidade e tem um lugar reservado no Hall of Fame. O fim da carreira continua a ser uma incógnita mas no último fim-de-semana, na eliminação dos Indianapolis Colts contra os Kansas City Chiefs, Vinatieri foi uma sombra de si mesmo.

 

Não era um pontapé decisivo. O jogo estava prestes a ir para o intervalo e os Chiefs já venciam 24-7, naquela que acabaria por ser uma vitória por 31-13. Ainda assim, era um field goal fácil, a apenas 23 jardas dos postes. Sim, as condições meteorológicas não estavam fáceis – tinha nevado bastante durante o dia -, mas esse nunca foi um problema para o kicker. No momento-chave, partiu para a bola e… acertou em cheio no poste esquerdo, praticamente na zona onde havia uma placa de gelo, que se soltou com o impacto.

 

Foi estranho. Não parecia dele. Pela primeira vez em 22 tentativas, Vinatieri falhou um pontapé daquela distância (ou menor) nos playoffs. Se acrescentarmos os jogos da fase regular, tinha um registo imaculado em 97 oportunidades. Mais tarde, para piorar, também falhou o ponto extra depois de um touchdown de TY Hilton.

 

«Não consegui fazer a colocação perfeita do pé», comentou no final. «Num jogo destes, precisamos de todos os pontos possíveis e não há dúvida de que precisávamos daqueles. Não consegui corresponder ao que esperavam de mim», continuou.

 

Adam Vinatieri está há 23 temporadas na NFL, depois de ter jogado durante uns meses em Amesterdão, à procura de uma oportunidade na elite, e não sabe o que vai ser do futuro, especialmente agora que sente que desiludiu num momento importante. «Para ser honesto, ainda não tomei uma decisão. Se quiserem negociar comigo, vou querer ouvir, isso é certo», afirmou.

 

Presente relembrou o passado

Vinatieri foi infeliz contra os Chiefs

Nenhum kicker está imune a falhar field goals importantes mas nenhum outro tem uma carreira tão marcante em jogos decisivos como Vinatieri. O jogador de origem italiana está diretamente ligado ao início da hegemonia dos New England Patriots e ocupa um lugar tão especial na memória dos adeptos como Tom Brady ou Bill Belichick.

 

Adam Vinatieri pode ter jogado uma Super Bowl logo em 1996 com os Patriots, mas foi a 19 de janeiro de 2002 que subiu ao monte dos deuses na equipa. Em Nova Inglaterra, a equipa estava a perder 10-13 contra os Oakland Raiders num jogo marcado por um intenso nevão. Comparado com aquele sábado de 2002, o tempo do jogo Chiefs-Colts esta semana estava bom para ir para a praia. A visibilidade era escassa, a neve não dava descanso e o sonho de regressar a uma Super Bowl fugia por entre os olhos dos Patriots. Depois, a 27 segundos do fim, surgiu uma oportunidade de tentar um field goal, a 45 jardas, para forçar o prolongamento.

 

Sim, um field goal de 45 jardas não é necessariamente difícil. Em condições normais. Mas aquela noite era tudo menos normal. A neve era tanta que os jogadores precisaram de afastar largos centímetros de neve acumulada para arranjar um espaço para colocar a bola que iria ser pontapeada por Vinatieri. E depois havia o vento. E a pressão em cima dos ombros. Nada disso importou: o pontapé não passou a trave por muito mas foi válido e forçou o prolongamento. Não satisfeito, Vinatieri voltou a ser importante, decidindo o jogo com um field goal de… 23 jardas, exatamente a distância da qual falhou agora contra os Chiefs.

 

O estatuto de recurso infalível ou, pelo menos, decisivo continuou consigo nos tempos seguintes. Duas semanas depois, na última jogada do encontro, foi Vinatieri quem executou com êxito um field goal de 48 jardas na primeira Super Bowl ganha na história da equipa (20-17 vs. Rams).

 

Dois anos depois, a história repetiu-se. Apesar de ter tido um jogo menos feliz, Vinatieri redimiu-se no momento decisivo. A quatro segundos do fim do jogo, e com um empate a 29, o kicker voltou a mostrar-se fundamental e cumpriu com êxito o pontapé de 41 jardas. Pela primeira vez na história, um jogador tinha sido o autor da jogada decisiva em mais do que uma Super Bowl.

 

Hoje, Vinatieri falhou exatamente nas condições que o tinham catapultado para a glória. Pode ter sido um prenúncio. Um sinal de que está na hora, de que as 23 épocas ao mais alto nível, com quatro títulos na Super Bowl, fazem parte do passado e que os 46 anos já pesam.

 

Um sinal de que é humano. Todos são, mais tarde ou mais cedo.

15 de Janeiro, 2019

Solskjaer. Um homem talhado para ser substituto

Rui Pedro Silva

Ole Gunnar Solskjaer na sua nova pele

O cenário foi tão comum na história do clube que nem chegou a causar estranheza. A 19 de dezembro de 2018, poucos dias depois de o Manchester United ter sofrido a segunda derrota consecutiva numa série de cinco jogos com apenas um triunfo, os red devils anunciaram que Ole Gunnar Solskjaer ia ser o substituto de José Mourinho.

 

Menos de um mês depois, a equipa está de cara lavada, os jogadores parecem outros e os resultados acompanham: cinco triunfos consecutivos – a melhor série da época era de apenas três – e uma valiosa vitória no terreno do Tottenham (1-0) a relançar as hipóteses na disputa de um lugar na Liga dos Campeões.

 

O treinador norueguês está a limitar-se a fazer aquilo que mostrou saber fazer melhor enquanto jogador do clube, entre 1996 e 2007: ser um substituto de luxo. Sim, a forma como saiu do banco para resolver a final da Liga dos Campeões em Barcelona, nos descontos (2-1 vs. Manchester United em 1999) será sempre o pináculo de uma carreira com um denominador comum: sair do banco para fazer a diferença.

 

Os números não mentem. Ole Gunnar Solskjaer era um goleador nato, jogasse a partir do banco ou desde o início do jogo. Foi assim nos escalões de formação do Clausenhagen e, mais tarde, na temporada em que ajudou a equipa ser campeã do terceiro escalão, num total de 115 golos em 109 jogos; e foi assim no Molde, onde marcou 41 golos em 54 jogos e garantiu o visto de entrada na Premier League para representar o gigante Manchester United.

 

Em Old Trafford, com Alex Ferguson, não houve diferença e os 18 golos no campeonato na época de estreia provaram que a contratação tinha sido acertada. Até 2007, vários avançados foram saindo e chegando e o norueguês com cara de bebé manteve-se igual a si próprio: jogasse quanto tempo jogasse, a probabilidade de marcar um golo era elevada.

 

O balanço final é esclarecedor: Solskjaer despediu-se do Manchester United com 126 golos marcados: 29 deles foram como suplente. Feitas as contas, são 23% dos golos marcados ao serviço dos red devils.

 

Futebol foi uma paixão que não largou

Ole Gunnar Solskjaer

O fim da carreira enquanto futebolista, precipitado por lesões recorrentes, não impediu Solskjaer de continuar ligado à modalidade. Já tinha provado que não gostava de andar a ser projetado de um lado para o outro. Afinal, foi por essa mesma razão que, enquanto criança, decidiu desistir da luta greco-romana, a modalidade que o pai praticava.

 

Continuar no futebol – e no Manchester United – era algo que tinha em mente mesmo antes de terminar a carreira. Por isso, no último contrato assinado, em 2006, garantiu que haveria uma porta de entrada aberta para a possibilidade de ser treinador.

 

Se por um lado estava obrigado a certificar-se enquanto técnico, por outro tinha o diploma mais do que válido para assumir o cargo de treinador dos avançados do Manchester United na primeira temporada após pendurar as chuteiras. Daí para a equipa de reservas na época seguinte foi um pequeno passo. A carreira de treinador estava a ser consolidada, capítulo após capítulo, e Solskjaer sentia-se preparado para um desafio mais sério.

 

O Molde foi um regresso às origens cheio de sucesso. Depois de o alemão Uwe Rösler ter salvado a equipa de descer de divisão no final de 2010, Ole Gunnar Solskjaer pegou de estaca e garantiu o primeiro título nacional da história da equipa, logo no primeiro ano. Não satisfeito, repetiu a façanha em 2012 e tornou-se, ainda mais, uma figura emblemática do clube.

 

O técnico conquistou ainda uma Taça da Noruega (2013) e manteve-se no Molde até ao início de 2014, altura em que aceitou um novo desafio e assumiu o comando do Cardiff City. Mais uma vez, ia ser o substituto de alguém: Malky Mackay. O norueguês pode ter entrado com o pé direito, a ganhar ao Newcastle na Taça de Inglaterra, mas o balanço em Gales foi negativo: a equipa não evitou a descida de divisão e o arranque no Championship foi mau o suficiente para o técnico abandonar o clube.

 

O antigo clube norueguês voltou a entrar na moldura em outubro de 2015 e foi lá que o Manchester United o foi buscar agora, três anos depois, para ocupar o posto de treinador interino. Um substituto destinado a ser substituído.

 

O contrato com o Molde continua válido – o regresso está previsto para maio de 2019 – mas o sucesso como substituto em Old Trafford pode provocar uma mudança de planos, mesmo que Solskjaer não esteja destinado a continuar no Manchester United.

 

Para já, a história está feita. Pode ser apenas um treinador interino, pode estar a prazo, pode ser um substituto que, faça o que fizer, já sabe que não será titular no próximo desafio, mas foi o primeiro da história do Manchester United a vencer os seus primeiros seis jogos ao comando da equipa.