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É Desporto

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07 de Janeiro, 2019

Tony Romo. Quando um quarterback arruinou um field goal

Rui Pedro Silva

Tony Romo não consegue segurar a bola devidamente

Voltou a acontecer. Não é necessariamente algo muito frequente mas os últimos anos têm demonstrado que o peso do momento consegue ser demasiado insuportável para que os kickers consigam resolver jogos dos playoffs nos últimos segundos.

 

As justificações podem ser várias. A chuva, o vento, o frio, as costuras da bola estarem do lado errado. O certo é que desde 2012 já houve três jogos que entraram para a galeria dos horrores, marcando para sempre as carreiras de Billy Cundiff, Blair Walsh e, desde ontem, Codey Parker.

 

Vamos por partes e recuamos até 22 de janeiro de 2012, dia de um clássico na distrital do Porto que atraiu milhares de adeptos: Felgueiras-Salgueiros (2-1). Mais tarde nesse dia, os Baltimore Ravens jogaram no Gillette Stadium com os New England Patriots para garantir o acesso à Super Bowl. Faltavam 15 segundos para o final e os Ravens tinham uma oportunidade para forçar o prolongamento. Billy Cundiff partiu para a bola, as costuras da bola estavam do lado errado, e falhou os postes. Na ressaca, o jogador foi dispensado e a sua carreira nunca mais voltou a ser a mesma.

 

Avançamos para 10 de janeiro de 2016, dia de um clássico na distrital de Setúbal, com vitória do Amora no Montijo (2-0). Mais tarde nesse dia, os Minnesota Vikings recebem os Seattle Seahawks na primeira ronda dos playoffs. A 22 segundos do fim, a equipa da casa perde 9-10 mas tem um field goal a 27 jardas dos postes. Blair Walsh entra em campo e… falha. O jogador continuou na equipa para a época seguinte mas não passou de novembro, depois de a desinspiração se ter prolongado no tempo com mais quatro field goals e quatro pontos extra falhados.

 

A terceira parte desta trilogia surge a 6 de janeiro de 2019, dia de um clássico na distrital de Lisboa, com empate sem golos no jogo entre Estrela e Belenenses. À noite, em Chicago, os Bears recebem os Philadelphia Eagles na primeira ronda dos playoffs. A três segundos do fim, a equipa da casa está a perder 15-16 mas tem a oportunidade de seguir em frente se Codey Parker converter o field goal. A bola bate primeiro no poste, depois na barra até finalmente voltar para trás. «Não dá para inventar isto. Sinto-me pessimamente. Deixei a equipa ficar mal. A responsabilidade é minha. Tenho de assumir, tenho de ser um homem. Infelizmente, foi assim que aconteceu.»

 

O futuro de Codey Parker ainda é uma incógnita mas os casos de Blair Walsh e Billy Cundiff não são animadores. Por outro lado, há um exemplo que destoa claramente desta trilogia. A 6 de janeiro de 2007, a responsabilidade caiu toda em cima do holder, o jogador que segura a bola para o pontapé. Na partida entre os Dallas Cowboys e os Seattle Seahawks, os texanos perdiam 20-21 a pouco mais de um minuto do fim e beneficiaram de um field goal. Tony Romo (esse mesmo, o quarterback) fez asneira, não conseguiu colocar a bola no sítio e fez uma tentativa desesperada, e sem sucesso, de chegar ao touchdown.

 

Uma raridade sem razão para acontecer

A desilusão de Tony Romo

A história nunca devia ter acontecido – onde já viu um quarterback a assumir uma posição tão fundamental durante um pontapé aos postes? – mas Tony Romo estava no início de carreira, na primeira época em que foi verdadeiramente titular e a continuar uma posição que lhe tinha sido atribuída no passado.

 

Era um desastre à beira de acontecer. Por muito que Tony Romo estivesse habituado a estar naquela posição, a sua importância na equipa tinha crescido exponencialmente e, mais não seja por uma questão de proteção, deveria ter deixado de estar exposto a este tipo de erros. Depois de ter acontecido o que aconteceu, todos pareceram saber perfeitamente que aquela situação se tinha prolongado durante demasiado tempo.

 

Um quarterback já é obrigado a viver com passes falhados, fumbles e interceções, não tem de arrecadar ainda mais cabelos brancos com as preocupações de segurar a bola para que outro pontapeie. O momento foi dramático e Romo não se perdoou. «Naquele defeso, o Tony ligou-me umas três ou quatro vezes sobre o que tinha acontecido e na noite do Pro Bowl estivemos a falar durante uns vinte minutos, com ele a pedir desculpa», contou na semana passada o long snapper (o jogador que faz o passe para o holder para que este possa posicionar a bola para o pontapé) LP Ladouceur.

 

«Dava para perceber que ele se preocupava mesmo com isto. Ele jogou por mais dez anos e sempre a um nível muito alto. Há outras coisas que podem criar um impacto muito maior, não é?», acrescentou.

 

A marca foi grande e o Tony Romo que se apresentou na conferência de imprensa após a derrota foi um homem derrotado pela vida. «Não sei se alguma vez me senti assim tão mal. Fiz com que os Dallas Cowboys perdessem um jogo dos playoffs. É algo que me vai perseguir durante muito tempo», afirmou.

 

Terrell Owens, o wide receiver da equipa, demonstrou empatia. «Nem consigo imaginar o que estará a passar pela cabeça dele neste momento. Está mesmo numa situação difícil. Sinto-me como ele. Apetece-me chorar», afirmou.

 

O erro de Tony Romo, o jovem quarterback que tinha levado os Cowboys às costas, ia deixar uma forte marca e o proprietário da equipa, Jerry Jones, fez questão de ir à procura de Romo no balneário. Naquele momento, era imprescindível garantir o apoio necessário para que o jogador conseguisse ultrapassar aquela desilusão.

 

A carreira de Tony Romo continuou e tornou-se um dos melhores quarterbacks da NFL. Nunca conseguiu chegar a uma Super Bowl, por muito pouco, mas não deixou que aquele momento o definisse. Tanto assim foi que uns anos mais tarde chegou mesmo a voltar a desempenhar a função de holder, enquanto o habitual responsável recuperava de lesão.