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É Desporto

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04 de Janeiro, 2019

Bianca Andreescu. A sensação de Auckland

Rui Pedro Silva

Bianca Andreescu

Tenista canadiana de origem romena tem apenas 18 anos e está a surpreender o mundo do ténis na Nova Zelândia. Depois de ultrapassar Caroline Wozniacki, a primeira cabeça-de-série em Auckland, fez o mesmo a Venus Williams. Agora, o céu parece ser o limite.

 

O nome não engana. Apesar de ser canadiana, Bianca tem origem romena e nasceu um dia antes de Costinha ter saído do banco para resolver o Portugal-Roménia do Euro-2000 no último minuto (16 de junho).

 

Sim, Bianca tem apenas 18 anos. Nunca foi além do 143.º lugar no ranking WTA (14 de agosto de 2017) e atualmente ocupa o 152.º posto. Mas não por muito tempo. Na Nova Zelândia, em Auckland, a adolescente saiu diretamente da qualificação, onde era apenas a quinta cabeça-de-série, para o estrelato.

 

Primeiro, eliminou Timea Babos. Depois, a fasquia aumentou mas não foi o suficiente para intimidar a jovem canadiana. Caroline Wozniacki, número três mundial, era a grande candidata mas não conseguiu sequer vencer um set, acabando eliminada com um duplo 6-4. Muitas vezes, estas revelações deixam-se levar pelas emoções e vacilam na ronda seguinte. Bianca Andreescu não. Contra Venus Williams, a tenista não só garantiu um lugar nas meias-finais como fê-lo depois de ter perdido o primeiro set.

 

Su-Wi Hsieh é a próxima adversária mas aconteça o que acontecer, Bianca Andreescu já garantiu 110 pontos para o ranking WTA e uma módica soma de 11300 dólares. Na próxima segunda-feira, no mínimo, estará na melhor posição de sempre e à beira do top-100.

 

Crescer no ténis com os olhos em Halep

Bianca Andreescu com Simona Halep

O ténis não foi uma escolha instintiva. Quando começou a praticar desporto, as atenções de Bianca estiveram divididas. Passou pelo futebol e pela natação, pela ginástica e pela patinagem antes de se decidir pelos courts.

 

A sua vida sempre foi impulsionada por mudanças de ares. Com sete anos foi com a família para a Roménia, onde começou de facto a apostar no ténis, mas não muito tempo depois já estava de regresso ao Canadá. Simona Halep, uma romena, surgiu como uma inspiração - «gosto dela porque muita gente diz que temos estilos parecidos. E adoro a determinação como joga. Gostava de moldar o meu jogo com base nela» - mas, por viver no Canadá, começou a ser vista como alguém que poderia seguir as pisadas de Eugenie Bouchard.

 

Em 2015, ainda com 14 anos, a sua progressão era irrefutável. Tornou-se a tenista mais jovem de sempre no top-60 do ranking júnior (14 anos e 11 meses) e assumia-se como alguém «concentrada e otimista» dentro e fora do court. «Melhorei muito a minha força mental e física este ano», dizia.

 

A tendência manteve-se de ano para ano. O trabalho com a treinadora Nathalie Tauziat também deu frutos e um ano depois, em 2016, chegou ao quarto lugar do ranking. «É uma tenista muito boa», dizia Tauziat. «Pode fazer muita coisa, tem boas bancadas e muita potência. Ainda só tem 15 anos mas está muito determinada no ténis. Tem grandes objetivos e está a fazer muito para os alcançar. É uma rapariga inteligente e espero que consiga.»

 

E conseguiu logo em 2017. Não venceu nenhum grand slam júnior em singulares (só dois em pares) mas tornou-se a primeira tenista a nascer depois de 1 de janeiro de 2000 a derrotar uma adversária do top-20, contra Kristina Mladenovic (13.ª) em Washington.

 

Foi também neste ano que conseguiu a única participação, até agora, no quadro principal de um grand slam (derrotada por Kristina Kucova na primeira ronda em Wimbledon) e foi eleita a melhor jogadora canadiana da época, interrompendo uma série de quatro prémios consecutivos para Eugenie Bouchard.

 

A evolução estagnou um pouco depois disso mas o desempenho em Auckland pode ser o empurrão que faltava para se começar a impor entre a elite do ténis feminino mundial.

04 de Janeiro, 2019

Rui Vitória. Não ser Jorge Jesus deixou de ser trunfo

Rui Pedro Silva

Rui Vitória

Onze anos depois, o Benfica voltou a mudar de treinador durante a época. A corda que ligava Rui Vitória aos encarnados estava cada vez mais esticada, ameaçou romper a 29 de novembro e cedeu finalmente após a derrota em Portimão, no primeiro jogo de 2019.

 

Não foi a primeira vez que Rui Vitória esteve com o lugar em risco mas nunca tanto, como agora, o trunfo de não ser Jorge Jesus estava tão gasto. A contextualização do ambiente que se vivia na Luz quando chegou ao clube não é dissociável da margem que teve para alcançar o sucesso.

 

O Benfica sentia-se traído com a saída de Jorge Jesus, sem aviso, para o Sporting e construiu uma narrativa – lógica e relevante – de mudança de paradigma. Rui Vitória foi o homem escolhido não para ser um anticristo mas sim para ser um antijesus.

 

Era um homem que já tinha passado pela Luz, um confesso benfiquista, alguém que não exigia completa independência na altura de atacar o mercado – pelo contrário – e que não tinha problemas em lutar com as armas que lhe davam, sem descurar o recurso à equipa B e aos jogadores da formação.

 

Foi esta a capa que Rui Vitória vestiu – que já lhe tinha assentado bem em Guimarães – e foi desta forma que a estrutura do Benfica o acarinhou e protegeu dos ataques. Na verdade, Rui Vitória começou por não ser mais do que um «rebound» da relação conflituosa e apaixonada entre clube e Jesus.

 

Se o ex-treinador tinha saído para o Sporting, era imprescindível garantir que tudo corria bem e dar um sinal para fora de que a nova relação era ainda melhor. Rui Vitória passou a ter todas as virtudes que antagonizavam os defeitos de Jesus. Falava melhor – nem sempre necessariamente bem -, apostava na formação e era apresentado como o treinador certo para recuperar a dimensão europeia do Benfica.

Rui Vitória e Luís Filipe Vieira

O problema é que o arranque de Rui Vitória foi desastroso. As três derrotas com o Sporting em quatro meses, que valeram um título perdido, uma eliminação da Taça de Portugal e um humilhante desaire na Luz, aliadas aos jogos perdidos em Aveiro com o Arouca e no Dragão com o FC Porto deixaram Rui Vitória numa posição delicada.

 

A 30 de novembro de 2015, precisamente três anos antes da célebre conferência de imprensa de reconciliação de Rui Vitória, o treinador encarnado tinha o futuro a escapar por entre os dedos. A contestação subia de tom após a eliminação da Taça em Alvalade, o empate em Astana não tinha ajudado e a deslocação a Braga podia ser vista como um tira-teimas. Com dois golos nos primeiros onze minutos, os encarnados garantiram o triunfo e mantiveram a distância de oito pontos para o líder Sporting, embora com menos um jogo disputado.

 

Durante este período, Rui Vitória defendeu-se como pôde. Se os resultados dentro de campo não ajudavam, era imprescindível mostrar aos sócios e adeptos que o treinador estava a fazer, de facto, um corte com o passado. Na primeira prova de fogo, na Supertaça, começou por apostar em Nelson Semedo. Depois, a partir daí, os jogos pós-desaires eram garantia de aposta em jovens.

 

Depois da derrota com os leões na Luz (0-3), a deslocação a Tondela ditou as estreias de Renato Sanches e Clésio. O agora médio do Bayern Munique só foi utilizado um minuto no mês seguinte… até os encarnados perderem em Alvalade para a Taça. Renato voltou a ser titular no jogo seguinte, no Cazaquistão com o Astana, pegou de estaca, marcou o golo fundamental em Guimarães no início de janeiro e assumiu-se como uma pedra basilar rumo ao tricampeonato.

Renato Sanches foi a melhor arma de Vitória

Estes pequenos momentos ajudaram a segurar Rui Vitória no Benfica. Isso e a impossibilidade de dar a parte fraca numa época que se adivinhava conturbada. Luís Filipe Vieira nunca gostou de dispensar treinadores a meio da época e fazê-lo numa edição liderada pelo Sporting de Jorge Jesus seria a última coisa da sua lista. De repente, as vitórias começaram a aparecer consecutivamente, as águias chegaram aos quartos da Liga dos Campeões e somaram 20 vitórias nas últimas 21 jornadas do campeonato – perderam apenas com o FC Porto na Luz.

 

Rui Vitória saiu por cima. Com o recorde de 88 pontos, o tricampeonato e os quartos da Liga dos Campeões, o Benfica fez xeque-mate a Jorge Jesus, salvou-se de uma época que ameaçava ser desastrosa e validou a aposta no novo técnico.

 

O ambiente de lua-de-mel não foi eterno. O Benfica foi tetracampeão na temporada seguinte, num título alcançado com relativa facilidade, mas as críticas ao estilo de Rui Vitória começaram a subir de tom. Na Liga dos Campeões voltaram a passar da fase de grupos – algo que foi novamente um trunfo contra a ausência de dimensão europeia dada por Jesus, o treinador que levou o clube a duas finais consecutivas, - mas os sinais de descontentamento estavam lá.

 

Foi também nesta altura que não ser Jorge Jesus começou a deixar de ser um trunfo. Da mesma forma que a intensidade e obsessão do antigo treinador promoviam o desgaste perante exposição prolongada, também o regime laissez-faire de Rui Vitória acabaria por ser contraproducente.

Rui Vitória

Rui Vitória nunca travou o futebol do Benfica mas promoveu, lentamente, a sua desaceleração. E quando se tornou obrigatório acelerar já não havia argumentos. As individualidades, sobretudo num campeonato como o português, ajudaram a resolver jogos, mas a inércia e o desinvestimento tornaram tudo mais difícil dentro de portas e impossível na UEFA.

 

Hoje, o Benfica já tem outro líder. Rui Vitória garantiu em novembro que não era um treinador a prazo mas há muito que estava nessa situação. Curiosamente, no final da temporada passada, até foi salvo… por Jorge Jesus e pela incapacidade do Sporting em segurar o segundo lugar. Vieira arriscou, manteve-o para uma nova edição, mas o risco calculado não compensou.

 

O Benfica é quarto classificado depois da passagem do ano pela primeira vez desde 2008 e está a sete pontos do FC Porto. E o simples facto de não ser Jorge Jesus, sobretudo com o técnico nas arábias e desejoso de voltar a Portugal para qualquer clube que lhe estenda a mão, deixou de ser um trunfo. Até é uma desvantagem. Rui Vitória sai também como um de apenas quatro treinadores que perderam no primeiro e último jogo pelo clube (Zozaya, Autuori e Toni são os outros três).

 

Luís Filipe Vieira e o Benfica venceram o jogo do sério contra o Sporting de Bruno de Carvalho e Jorge Jesus. Perante a implosão em Alvalade durante o verão, os encarnados recuperaram tranquilidade e agora até podem promover o regresso de uma paixão antiga. Rui Vitória não resistiu e talvez faça agora o que tanto ameaçou na conferência de imprensa de novembro: «Seria muito fácil para mim apanhar um avião para outro lado qualquer».

 

O maior problema da carreira de Vitória é que o aeroporto é pequeno. Sim, venceu cinco títulos em três anos e meio, mas a imagem que fica é a de um treinador limitado. Em Portugal, é difícil imaginar que possa voltar a treinar um grande. Os milhões das arábias até podem ser um «agradecimento» do Benfica e de Vieira, mas o futuro não parece promissor. Não ser Jorge Jesus não lhe vai garantir nada daqui para a frente.