Fenway Park é uma experiência para qualquer altura do ano
Não há absolutamente razão nenhuma para ir a Boston e não visitar o Fenway Park. Se gostarem de basebol, nem preciso de vos dizer nada. Se gostarem de desporto mas não de basebol, reconhecem a importância de estar numa das mecas de uma modalidade, seja ela qual for. Se gostam de conhecer por dentro as cidades que visitam, percebem que o Fenway Park é um símbolo de Boston. Se só viajam para fazer compras… há uma loja maior do que alguns hipermercados com todo o tipo de adereços dos Red Sox.
(publicado originalmente no atlas de bolso)
É incontornável. Não vos vou dizer que a história de Boston e dos Red Sox se confunde – isso seria uma enorme hipérbole – mas não há dúvida que a história da equipa de basebol nos últimos 100 anos é também – e muito – uma parte da história de Boston.
O estádio foi inaugurado em 1912 e é o mais antigo da Major League Baseball. Ao contrário das construções mais recentes, mais preocupadas com o conforto e com grande lotação, o Fenway Park é famoso pelas suas peculiaridades. Boston sabe-o bem e é por isso que há sempre uma boa desculpa para estar lá dentro e conhecê-lo o melhor possível.
Há três opções: fazer o tour, como nós fizemos em abril de 2017 depois de termos percebido que o nosso jogo tinha sido adiado por causa da chuva e não teríamos uma segunda oportunidade, ver um jogo (fase regular vai do final de março ao final de setembro) ou… fazer as duas coisas.
É mais caro, claro, mas acho que compensa. No tour, visitamos zonas que seriam impossíveis de outra forma e aprendemos muito sobre o passado; no jogo, absorvemos o ambiente de um estádio praticamente sempre cheio – por ser dos mais antigos é também dos que tem menor lotação.
As peculiaridades do estádio
A visita começa na enorme loja do outro lado da Yawkey Way. Depois de uma breve apresentação – dizer que somos de Portugal, onde quer que seja, gera sempre um grande entusiasmo e curiosidade – entramos no estádio e vamos direitos ao balneário da equipa visitante.
É uma volta rápida e, subitamente, começamos a mergulhar na história dos Red Sox, muito baseada no sofrimento sentido durante o jejum de 86 anos sem títulos (entre 1918 e 2004). Cada paragem nas instalações é um motivo para falar de um tema diferente.
Sentamo-nos num dos setores da bancada para recordar quão velho o estádio é, com aquelas cadeiras de madeiras originais, tão pouco confortáveis, mas que merecem destaque por estarem ali, sem serem substituídas, há mais de 100 anos. Visitamos a zona de imprensa para perceber melhor a dinâmica com os jornalistas e o apertado código de vestuário, passamos pelo Green Monster (a enorme muralha do lado esquerdo do campo que é possivelmente a parte de um estádio mais famosa de todo o basebol nos EUA), falamos sobre a isolada cadeira vermelha que representa o home run mais longo alguma vez batido naquele estádio e ficamos a saber que há uma horta biológica e painéis solares num pequeno terraço do estádio.
Aquela hora e meia é um conjunto de lição histórica com lição desportiva, associando sempre os grandes momentos dos Red Sox aos problemas de gestão do clube e a forma como foi evoluindo até se tornar um exemplo de sucesso. Os bilhetes para a visita custam vinte dólares.
Ver um jogo dos Red Sox ao vivo
A zona do Fenway Park em dias de jogo ganha uma vida radicalmente diferente. Os bares nas imediações começam a encher muitas horas antes, a loja tem mais movimento e o aparato policial assinala que aquele não é um dia qualquer. Cá fora, há vendedores ambulantes de todo o tipo, barraquinhas com mais opções e homens que nos abordam na rua a perguntar se queremos comprar ou vender bilhetes para o jogo.
Há não muito tempo, os jogos no Fenway Park estavam sempre esgotados e comprar bilhete era uma missão mais complicada – embora nunca impossível. Sites como o StubHub ou o SeatGeek ajudam a garantir a presença na bancada meses antes de fazermos a viagem, tornando tudo mais tranquilo.
Quando entramos no estádio em modo de jogo, é impossível não reparar nas diferenças em relação à visita. Há mais vida, mais calor, mais ruído. A azáfama é enorme e ninguém pára. Há filas para passar o bilhete, para a casa-de-banho, para a loja e para comer. Só não há filas para sentar porque não calha… e porque nós vamos sempre com as galinhas.
Há bilhetes a preços simpáticos, perto dos vinte dólares, mas é possível gastar muito mais se quisermos ser importantes e ir para perto da ação. O mais complicado é mesmo garantir lugares no Green Monster. Podem não ser tão caros como os que estão junto dos bancos, mas a procura é muito maior do que a oferta e a antecipação é peça-chave para a compra.
No nosso caso, quando fomos em setembro ver o jogo com os Blue Jays de Toronto, quisemos ficar num sítio com boa visibilidade para a ação e não muito longe do Green Monster. Calhou-nos uma bancada familiar, chamada assim por ser proibido o consumo de álcool – peculiaridade que muitos ignoram, passando depois pela vergonha de serem repreendidos por elementos da segurança.
Ter um bom lugar no Fenway Park é uma ciência complicada. Os pilares que obstroem a visão multiplicam-se e há mesmos lugares que estão a poucos centímetros de um pilar. Nunca nos aconteceu, mas é possível comprar um bilhete para estar a olhar para um pilar durante três horas. Apesar de tudo, nos sites de compra de bilhetes, costuma surgir um aviso sobre se os lugares tem a vista total ou parcialmente obstruída. Dito de outra forma, desconfiem sempre se acharem um preço muito mais barato do que os outros.
A experiência do jogo em si não foi, na sua maior parte, muito diferente da de outros jogos a que já tínhamos ido. Ficámos atrás de uma família adepta dos Blue Jays, embora passassem mais tempo com os olhos no telemóvel do que no jogo, e… vimo-los festejar enquanto os Red Sox perdiam.
O momento mais diferente – que já sabíamos e esperávamos – foi quando a instalação sonora passou, como manda a tradição, o Sweet Caroline do Neil Diamond. O hábito tem mais de dez anos mas, depois de uma fase em que era muito bem visto pelos adeptos, tem-se tornado cada vez mais um motivo de debate: está ou não na altura de acabar com a música? Seja qual for a opinião popular, o certo é que milhares de pessoas se levantaram, puxaram dos telemóveis e gravaram o momento enquanto cantavam em plenos pulmões. Nós não fugimos à regra, claro está.
Se temos de ser romanos em Roma, por que não haveríamos de ser bostonianos em Boston? Vá, só não bebemos álcool, mas de resto houve espaço para os amendoins, os hambúergueres e as bebidas de litro com refill gratuito. É a experiência que faz a diferença.