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É Desporto

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29 de Outubro, 2018

Atlanta Braves. Um estádio que valeu pelo... pôr do sol

Rui Pedro Silva

A nossa viagem a Atlanta não estaria completa sem um bocadinho de desporto. Por isso mesmo, no último dia, incluímos uma tarde no SunTrust Park, o estádio dos Atlanta Braves, para um joguinho contra os Phillies de Filadélfia.

 

(Publicado originalmente em atlas de bolso)

Atlanta Braves

A aventura começou ainda em Lisboa, quando percebemos que o SunTrust Park, o mais recente estádio da Liga, fica muito fora do centro da cidade. Na verdade, fica mesmo fora da cidade, em Cumberland, e chegar lá de transportes (somos quase fundamentalistas dos transportes públicos quando estamos de férias, mas isso é tema para outro dia) não era linear.

 

Acabámos por decidir partir de Midtown, depois de termos passeado pela zona e pelo Piedmont Park, num autocarro que nos levaria até um centro comercial a 20 minutos do estádio. Uma hora de viagem pelo meio dos subúrbios até podermos matar a gula numa Cheesecake Factory e seguirmos caminho.

 

Como fazemos sempre, fomos cedo. Aproveitámos o ar condicionado do centro comercial para recarregarmos baterias, depois de um dia cansativo (e quente). Duas horas antes do início do jogo, quando as portas se abriram, pusemo-nos a caminho - aí percebemos que a zona que envolve o estádio teria sido igualmente uma boa escolha para aguardar: as lojas, os restaurantes e os espaços verdes são novos, arranjados e convidativos. 

SunTrust Park

Depois das fotos da praxe, passámos a segurança e ocupámos o nosso lugar. Também como é habitual, sabíamos que os nossos lugares seriam dos mais altos do estádio - os mais baratos. O que não sabíamos é que o nosso tempo de espera até ao início do jogo ia ser abrilhantado com um pôr do sol magnífico.

 

Não é preciso haver uma razão especial para gostar de um pôr do sol mas ali foi também uma questão de conforto. Quando chegámos, o sol ainda nos batia de frente e era impossível estarmos sentados nos nossos lugares. Nem o protetor disponível em vários pontos do estádio (tipo desinfetante) nos safou e decidimos regressar ao corredor comum, onde encontrámos uma daquelas mesas de piqueniques à sombra, junto a uma das rampas de acesso à bancada. Só depois, quando o sol estava mais baixo, é que voltámos e ficámos maravilhados com aquela imagem.

Pôr do Sol no SunTrust Park

Confesso que tive de ir confirmar o resultado final do jogo - sabia que a vitória tinha sido da equipa da casa, mas não por quanto: aquilo que retive da minha primeira experiência no SunTrust Park foram os cânticos e celebrações dos adeptos, um estádio lindo e um jogo aborrecido e lento como já não se usa na MLB. Já agora, ficou 8-3.

 

O basebol é um desporto de tradições e até espetadores menos frequentes como nós se apercebem disso. No sétimo inning ouve-se sempre o «Take me out to the ball game», independentemente da equipa, e depois cada uma tem os seus próprios hábitos. Em Boston, por exemplo, os Red Sox aproveitam um intervalo para ter milhares de pessoas a cantar o Sweet Caroline do Neil Diamond. Outra coisa que acontece é a tendência para cada equipa ter a sua música eleita para lançar nos altifalantes sempre que um jogo termina com uma vitória. Falando apenas das equipas que estão na final este ano, os Red Sox têm a Dirty Water dos The Standells e os Dodgers a I Love LA de Randy Newman.

 

Os Braves surpreenderam-nos com uma espécie de cântico para chamar a sorte. Com milhares de luzes dos telemóveis ligados e um cântico com tons indígenas, repetem um gesto de martelo conhecido por "tomahawk chop". Como o estádio é moderno, dá para controlar as luzes e a intensidade é reduzida para tornar tudo mais... intenso.  

O cântico resultou... mas demorou a ter efeitos práticos. Noutras alturas, e desde que o frio não apertasse (ali, isso nem era uma questão), a lentidão do jogo e o empate mantido até ao sétimo inning não seriam problemáticos. Naquele dia, no entanto, sabíamos que o último autocarro (a 15 minutos a pé de onde estávamos) partia às 23h20... e não havia forma de o jogo acabar. Os quatro pontos que chegaram no oitavo inning foram mesmo o que precisávamos para decidir sair antes do final sem sentir que podíamos perder uma reviravolta histórica: os Phillies não pareciam capazes de dar a volta ao resultado.

 

Estávamos já fora do estádio quando ouvimos as celebrações do final do jogo, com direito a fogo de artifício. Chegámos a tempo ao autocarro (que até se atrasou um bocadinho) e tivemos quase uma hora e meia de caminho até casa para pensar se a experiência tinha valido a pena. Da minha parte, sim, apesar do anticlímax que foi encerrar a viagem a uma cidade cheia de emoções fortes com um jogo tão chatinho.