Efe Obada. De vítima de tráfico humano à NFL
Nasceu na Nigéria e foi deixado ao abandono com a irmã nas ruas de Londres com apenas dez anos. Indesejado, saltou de casa de acolhimento para casa de acolhimento até conseguir dar um sentido à vida. Quando esta finalmente lhe sorriu, aproveitou e deu o salto para a NFL. A estreia não podia ter sido melhor.
Uma noite de pesadelo
Não se sabe bem o que aconteceu a Efe Obada e à irmã naquele dia. Mesmo agora, 16 anos depois, os contornos da história continuam a ser difíceis de explicar e o nigeriano de nascença avisa os jornalistas que não está preparado para falar sobre o assunto.
Sabe-se pouco. Sabe-se que tinha dez anos, que vivia na Holanda com a mãe e com a irmã e que foi com esta que atravessou o canal da Mancha para chegar ao Reino Unido, com destino marcado para Londres, possivelmente à procura de um futuro melhor.
Não aconteceu. Chegou a Londres, é certo, mas não passou disso. «Esta senhora deixou-nos no meio da rua… assim, simplesmente. Foi assustador e muito solitário. Fomos parar a uma zona de prédios residenciais e explicámos a nossa situação a um dos seguranças que por lá andava. Ele deixou-nos dormir à entrada de um dos prédios. Passámos duas ou três noites assim com apenas os nossos casacos para nos aquecermos. Estava um frio de rachar.»
As notícias que se foram escrevendo sobre Obada ao longo dos últimos anos desvendam mais alguns pormenores. Dizem que a mãe lhes arranjou um contacto de uma família amiga – o que faz pensar que Efe e a irmã não foram tirados da progenitora mas sim que esta terá pagado pela promessa de uma vida melhor – mas que como já tinham cinco crianças não podiam acolher mais ninguém.
O calvário estava apenas no começo. Entregues aos serviços sociais britânicos, saltaram de casa de acolhimento para casa de acolhimento sempre com o mesmo rótulo. De indesejáveis. Efe fala disso e não esquece como a situação o levou para o lado negro da força.
«Eu e a minha irmã andámos a saltar de casa em casa a viver com estranhos. Quando não se tem estabilidade, perdemos a confiança nas pessoas. Sabemos que não estamos a viver num casa de forma permanente, que aquilo que não é real, que as pessoas só estão a ser pagas para tomarem conta de ti. Ficas com problemas de confiança e crias pequenos demónios na tua cabeça. Não ser desejado e não ter esta segurança e estabilidade não é uma sensação simpática», recordou.
«Fez-me ficar zangado. Fiquei com muita raiva. Tornou-me uma pessoa negativa e pessimista. Não acreditava em mim e porque nunca tinha tido a estabilidade familiar que precisava acabei a fazer amigos numa área que me levou para me dar com gangues e com todas as pessoas erradas.»
O início da reviravolta
Efe tem 1,98 metros e 116 quilos. A figura imponente fez com que não tivesse problemas em conseguir um trabalho como segurança no armazém de uma loja no sul de Londres. Foi também graças a isso que um dia decidiu experimentar o futebol americano.
Os London Warriors mudaram-lhe a vida. O coordenador defensivo da equipa tinha estado na organização dos Dallas Cowboys e identificou nele um diamante em bruto, capaz de poder vir a fazer a diferença.
Efe Obada não tinha experiência, não conhecia os principais fundamentos do jogo e não tinha participado em mais do que cinco jogos, mas foi treinar com a equipa do Texas quando esta veio a Londres em 2015 para defrontar os Dallas Cowboys.
«Isto é um sonho. É fantástico e capaz de mudar a minha vida. Parece um filme. É surreal. Isto não acontece a pessoas como eu. Nem sequer saí de Londres desde que cheguei ao Reino Unido», disse na altura.
Caminho de pedras até ao estrelato
O sucesso estava a caminho mas a rota foi atribulada. Fez contratos para as equipas de treino com os Chiefs de Kansas City e os Falcons de Atlanta mas nunca mantinha o lugar por mais do que um punhado de semanas. Até que um novo protocolo que permitia aumentar o número de jogadores da equipa de treino desde que fossem internacionais lhe soube a ouro.
O primeiro contrato com os Carolina Panthers foi assinado a 25 de maio de 2017 e, depois de alguma incerteza, deu mais um passo contratual a 8 de janeiro de 2018. Agora, oito meses depois, estreou-se oficialmente na NFL, tornando-se o primeiro estrangeiro a jogar na liga americana vindo diretamente de uma liga europeia e sem passado no futebol americano universitário.
O defensive end quis marcar a estreia, na terceira semana da NFL, com uma assinatura especial e brilhou ao mais alto nível no triunfo dos Panthers sobre os Cincinnati Bengals: fez um sack e uma interceção, e teve direito a levar a bola do jogo para casa.
«Ele tem tido a mentalidade de que se recusa a ser um jogador apenas para os treinos e quer jogar. Está sempre atento nas reuniões e em campo. Todos sabíamos que seria capaz de fazer o que fez, mas vê-lo a acontecer é algo completamente diferente», disse um dos seus colegas, Wes Horton.