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É Desporto

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03 de Setembro, 2018

Celta Vigo. A festa numa tarde de verão

Rui Pedro Silva

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O calor acima dos 30 graus não foi suficiente para afastar muita gente dos Balaídos. Num sábado de sol, convidativo a um mergulho – mesmo nas águas de Vigo – o Celta não teve problemas em derrotar o Atlético Madrid e colocar-se na dianteira da perseguição a Barcelona e Real Madrid.

 

Ir beber inspiração ao Chaves-Portimonense

 

Ir a Vigo ver um jogo de futebol não tem o mesmo significado para todos os portugueses. Para uns, a fronteira está quase ali ao lado e ir e vir no mesmo dia é uma tarefa que não implica grande esforço logístico. Para quem viaja de Lisboa, no entanto, há nuances que têm de ser postas em equação para chegar à melhor alternativa possível.

 

É possível, sem grande problema, fazer a viagem direta mas aproveita-se melhor quando se arranja tempo para cada momento da viagem. Assim, tal como para o Chaves-Portimonense duas semanas antes, decidimos fazer o caminho de carro com antecipação, dormindo em Ponte de Lima na véspera.

 

O jogo originalmente marcado para as 16h15 locais foi adiado para as 18h30 e abriu-nos ainda mais o leque de atividades para antes do jogo. Graças a isso, pudemos ainda dar um mergulho na praia em Vigo, para refrescar duas horas antes do pontapé de saída e chegar ao estádio sem estar a morrer de cansaço da viagem de carro ou de calor (termómetros chegaram a marcar 38 graus).

 

O Estádio de Balaídos está muito diferente de quando o conheci em 2009. A memória não é perfeita e não houve tempo, na altura, para mais do que a compra de uma camisola. Agora, quase dez anos depois, não sabia exatamente o que esperar. O único trabalho de casa, além da compra de bilhetes (40 euros os mais baratos), foi tentar perceber quão difícil seria estacionar o carro perto do recinto.

 

Foi muito. Talvez por termos ido mais em cima do jogo – culpa do mergulho! – as movimentações em redor do estádio eram grandes e os carros estavam todos à procura do mesmo. Sem grande conhecimento para fazer invenções, fomos subindo a colina, apostando em estradas perpendiculares que parecessem menos movimentadas e esperando ter sorte (no caso, um carro a sair do seu lugar). Aconteceu… a 1200 metros do estádio. A parte boa? Ia ser sempre a descer até à bancada.

 

Um mar de Aspas entre alguma desorganização

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Basta olhar com alguma atenção para o que nos rodeia para percebermos quem é o maior ídolo dos adeptos. Um pouco por todo o lado, há camisolas com a inscrição de Iago Aspas nas costas. O internacional espanhol tem feito a diferença e os adeptos não o esquecem, nem mesmo quando as filas para entrar na bancada prometem levar alguns ao desespero.

 

As portas têm cinco a seis torniquetes mas a informação é pouca. De tempos a tempos, aparece uma responsável a gritar em plenos pulmões que os bilhetes comprados através da internet só podem ser validados nos torniquetes das pontas. O que pode ser um problema para quem só o ouve quando está já prestes a entrar num dos do meio. A mudança de fila lá se faz – para algum desespero dos espanhóis que são ultrapassados («Julgam que podem fazer tudo!», ouço claramente, sem perceber no entanto se é uma crítica ao que acabou de acontecer ou se parte de uma conversa que já existia).

 

A entrada ainda traz mais problemas. Os bilhetes têm de ser comparados com o número do cartão de cidadão inserido no momento da compra mas o elemento do staff junto ao torniquete não parece ter autonomia para o fazer sozinho no caso de cartões de identificação portugueses. A cada adepto que surge com um bilhete destes, há um grito para um colega vir confirmar se está tudo bem.

 

Entrada sincronizada

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A hora do jogo está próxima e descobrimos os nossos lugares praticamente no momento em que as equipas entram em campo. Uma mente egocêntrica poderia pensar que o estádio tinha decidido levantar-se em conjunto para marcar a nossa presença, mas somos muito mais acessórios do que podemos pensar. Quando jogadores de Celta e Atlético fazem a saudação aos atletas, já nós estamos sentados nos nossos lugares, na quinta fila atrás de uma das balizas.

 

O meu trabalho de prospeção na compra de bilhetes foi fraco. Normalmente, obedece sempre a um conjunto de fatores que têm de ser tidos em conta: os mais baratos, num sítio que se consiga ver bem e sem ser alto o suficiente para uma pessoa que tenha vertigens/medo de alturas (não eu, entenda-se). Desta vez, ao evitar escolher uma fila muito para cima, ignorei que na verdade aquele topo do estádio só tinha uma bancada junto ao relvado.

 

Resultado: há um desafio de habituação para conseguir apreciar o jogo praticamente ao nível do relvado, especialmente quando a curva da bancada nos afasta uns 25 metros da linha de fundo.

 

Adeptos para todos os gostos

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O ambiente no Estádio dos Balaídos não é autoritário. A claque do Celta está numa das centrais e não parece ter mais do que 300 ou 400 adeptos. Pior do que isso, o resto do estádio não responde com a mesma paixão ou fervor aos cânticos, limitando-se a reagir aos estímulos que o próprio jogo lhe dá. No setor dos adeptos do Atlético Madrid, na mesma bancada mas no canto oposto e lá em cima, não há mais do que 25 ou 30 pessoas.

 

A nossa curva, no entanto, parece ser um grande centro de mistura. Imediatamente à nossa frente, há três brasileiras que torcem pelo Celta, têm insultos em espanhol na ponta da língua, e não parecem entender muito bem o que se passa quando o VAR anula o terceiro golo do Celta.

 

Um pouco por todo o lado há também adeptos do Atlético Madrid, uns equipados a rigor e outros que parecem não ser mais do que simpatizantes de ocasião, como a pequena criança francesa com os pais que assiste embevecida aos toques que Lemar dá ao intervalo.

 

A primeira parte não traz muito ao jogo. Verdade seja dita, damos por nós a pensar, uma vez que temos elementos da segurança sentados em cadeiras a olhar para nós o jogo inteiro, qual seria a melhor forma de invadir o relvado. Olhamos para eles, tentamos perceber o grau de atenção, a mobilidade, a idade, antes de darmos a nossa opinião. Brilhante, não?

 

O brinde de Godín a desbloquear o jogo

 

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Depois de um intervalo em que as regras do VAR passaram nos ecrãs gigantes – parecendo adivinhar que haveria um momento polémico pouco depois – a segunda parte ia arrancar praticamente com um golo do Celta.

 

Depois de Godín tropeçar sozinho, Maxi Gómez correu isolado pela direita e bateu Oblak. A euforia tomou as bancadas de assalto e nunca mais cedeu. O jogo também ajudou. O Atlético nunca foi uma ameaça séria e só provocava reações nas bancadas quando Thomas cometia faltas atrás de faltas depois de já ter um amarelo. «Mostra a segunda! Mostra a segunda!», gritavam atrás de nós, sabendo perfeitamente que Mateu Lahoz não conseguiria a ouvir, mas ainda assim fazendo parte de uma tradição de descarga de adrenalina.

 

O 2-0 chegou quase logo a seguir, aos 52 minutos. Iago Aspas, quem mais poderia ser?, ganhou um duelo nas alturas de forma perfeita e cabeceou para o fundo da baliza. O estádio festejou ainda mais do que na primeira vez: afinal, ainda não estava perfeitamente recomposto do primeiro momento de festa e já estava ali pronto para outra.

 

O Celta soltou-se e começou a jogar cada vez melhor. O 3-0 chegou mesmo a subir ao marcador, em mais um excelente momento de cabeça, mas a reposição de jogo foi sendo atrasada. Ser português talvez tenha dado uma vantagem ali. «Deve estar a ser revisto no VAR», disse, perante aquela pausa. À nossa volta, toda a gente parecia perdida. A Liga Espanhola só agora implementou o VAR e três jornadas não são suficientes para entrar no ritmo.

 

Finalmente, Mateu Lahoz decide-se. Faz o gesto do VAR, aponta para a grande área, apita e levanta a mão assinalando livre indireto. Ou seja: golo anulado. Há assobios no estádio mas, pelo menos ao pé de nós, a maior parte das pessoas parece não ter percebido o que se tinha acabado de passar.

 

Minutos depois, atrás de nós, um perguntava ao amigo: «Mas espera lá, não está 3-0». À nossa frente, o grupo de brasileiras decide sair antes do apito final e só aí se apercebe que o marcador tem 2-0 e não 3-0. Conclusão: o VAR pode ser confuso visto no estádio mas, mesmo sem terem acesso às imagens, os adeptos deverão ter uma forma de ser informados sobre a decisão, à imagem do que acontece na NFL.

 

O apito final chegou com o 2-0 e a aventura chegou ao fim. O semblante dos adeptos de Madrid estava carregado – afinal de contas era a segunda vez que perdiam pontos em três jornadas -, enquanto o ambiente entre os de Vigo era animado e otimista. Afinal, há razões para isso.