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É Desporto

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18 de Fevereiro, 2017

1956. Lisboa no centro do futebol africano

Rui Pedro Silva

Egipto em 1957

Representantes do Egipto, Sudão, e África do Sul aproveitaram o congresso da FIFA em Lisboa para consumar a criação da Confederação de Futebol Africana e da Taça das Nações Africanas no Hotel Avenida. O resto é história.

 

Uma voz no futebol mundial

 

O continente africano estava para o futebol mundial na década de 50 como um bebé está para os diálogos de adultos. Não tinha uma palavra a dizer. A maior parte dos territórios ainda não era independente e o número de federações de futebol inscritas na FIFA era irrisório: apenas Egipto, Sudão, Etiópia e África do Sul.

 

Os responsáveis começaram a ganhar consciência e, mesmo antes da vaga de independências reservadas para os anos seguintes, houve a oportunidade de pressionar a FIFA a mudar a forma como as coisas eram feitas.

 

Foi assim que, em 1954, em Berna, África ganhou finalmente o direito a ter um lugar no comité executivo da FIFA. Com a oposição feroz da Argentina, que reclamava o facto de a qualidade do futebol africano não ser boa o suficiente, a votação não deu, apesar de tudo, margem para dúvida: 24 dos 41 votos foram favoráveis à integração de um representante africano no comité.

 

O passo seguinte

 

A decisão estava tomada mas o representante não era mais do que um elemento provisório. Para corresponder aos estatutos e à legalidade da situação, as federações africanas estavam agora a correr contra o relógio, obrigadas a criar uma confederação de futebol.

 

A oportunidade perfeita foi encontrada em Lisboa, dois anos depois, no congresso da FIFA, na segunda semana de junho. O evento só iria começar no dia 8, em vésperas da inauguração do Estádio José Alvalade, mas três egípcios, três sudaneses e um representante da federação da África do Sul – um britânico chamado Fred Fell – reuniram-se no Hotel Avenida, no coração de Lisboa, e estabeleceram as linhas necessárias para a criação do organismo.A Etiópia não teve um representante na reunião, apesar do interesse, devido à falta de capacidade financeira para marcar presença na capital portuguesa.

 

Mas não se ficaram por aí. Estabeleceram também as linhas mestras para a organização da primeira Taça das Nações Africanas. Seis meses depois, o outrora embrião estava pronto para ver a luz do dia.

 

O início real

 

A Confederação Africana de Futebol foi criada oficialmente em Kartum, capital do Sudão, a 8 de fevereiro de 1957. Dois dias depois, foi dado o pontapé de saída da primeira CAN. A Etiópia marcou presença, a África do Sul não.

 

Fred Fell tinha estado no acordo mas, da mesma forma que o congresso de Lisboa foi marcado pela discussão sobre a possibilidade de coexistência de duas federações sul-africanas na FIFA – uma para brancos e outra para negros – também a primeira CAN foi centro de polémica.

 

O britânico transmitiu as indicações que tinha de que a equipa não poderia ser multirracial. Ou seria totalmente branca ou totalmente negra. Perante a intransigência, a prova começou só com três seleções, com a Etiópia a ganhar um passaporte direto para a final.

 

O Egipto foi o primeiro vencedor. Depois de derrotar o Sudão no primeiro jogo, por 2-1, goleou os etíopes na final, com quatro golos de Mohammad Diab El Attar no 4-0.