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É Desporto

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04 de Novembro, 2016

Theo Epstein. O arquiteto de equipas que caça jejuns

Rui Pedro Silva

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Nos Estados Unidos dizem que tem um lugar no Hall of Fame garantido. Não é para menos: é ele o diretor-geral associado ao regresso aos títulos de Boston Red Sox e Chicago Cubs. 

 

O sorriso metafórico

 

Quando Kris Bryant viu a bola batida por Michael Martínez vir na sua direção, foi incapaz de conter o sorriso. Nada estava ganho ainda. Quatro dias antes, o terceira base dos Cubs tinha somado dois erros em lançamentos que tinham ajudado os Indians a vencer 7-2. Mas ali, naquele momento, o sorriso disse tudo.

 

Kris Bryant sonhara com aquele momento e não ia deixar que alguma coisa escapasse. E foi dessa forma, com um sorriso rasgado nos lábios captado pelas câmaras, que o jogador de 24 anos, segunda escolha no draft de 2013, agarrou a bola e lançou-a para Anthony Rizzo na primeira base, garantindo o 30.º e último out do jogo sete da World Series, pondo fim a um jejum de 108 anos sem títulos dos Cubs.

 

O sorriso foi a metáfora perfeita para o estado de espírito dos adeptos. E Kris Bryant o melhor exemplo daquela que foi a estratégia de recuperação dos Cubs, montada por Theo Epstein, um diretor-geral que tinha feito história em 2004, conduzindo os Red Sox ao primeiro título em 86 anos, numa altura em que era um “jovem” de apenas 30 anos.

 

Fazer o mesmo em Chicago, onde está desde 2011, ajudou a elevar o estatuto de Epstein e aumentar o reconhecimento de um homem que, em dois títulos em duas equipas, quebrou 196 anos de seca.

 

«Outubro [o mês que no basebol é utilizado como sinónimo de playoffs] é uma loucura. E este é capaz de ter sido o mais louco de todos», afirmou Epstein.

 

Talento precoce

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Ainda na faculdade, Theo Epstein tinha começado a enviar cartas para as equipas da liga a manifestar interesse em trabalhar na área. A porta de entrada chegou com os Baltimore Orioles e um cargo em relações públicas, em 1995. Depois, seguiu para os San Diego Padres e já estava ligado ao desenvolvimento de jogadores.

 

No final de 2002, foi contratado para o cargo de diretor-geral dos Red Sox. Tinha 28 anos. Ali, naquele momento, fez história: era o mais novo de sempre no cargo na Major League Baseball.

 

O efeito foi praticamente imediato. Numa cidade traumatizada pelas constantes derrotas por 3-4 em World Series (1946, 1967, 1975 e 1986), os novos Boston Red Sox ameaçaram mas voltaram a cair num jogo sete, na final da Liga Americana em 2003. O vilão? Sempre os Yankees.

 

As más escolhas do treinador, Grady Little, levaram a que fosse substituído por Terry Francona. Já com Curt Schilling e Kevin Millar, os Red Sox protagonizaram a melhor época da história. Não só porque foram finalmente campeões (4-0 frente aos St. Louis Cardinals na World Series) mas também porque conseguiram uma inédita reviravolta na final da Liga Americana depois de uma desvantagem de 0-3 contra os Yankees.

 

Os Red Sox entraram numa nova era, atirando a maldição de Babe Ruth para trás das costas. Em 2007 seriam novamente campeões e em 2011, depois de uma pré-época marcada pelo forte investimento nas contratações falhadas de Carl Crawford e Adrián González, o capítulo que ligava Epstein a Boston chegou ao fim. Os Cubs estavam a caminho…

 

Paciência até ao título

 

O contrato assinado com os Cubs em outubro de 2011 era válido por cinco anos e pagava 18,5 milhões de dólares. Nessa temporada, a equipa de Chicago não tinha ido além das 71 vitórias em 162 jogos.

 

O esforço teria que ser grande e Epstein pediu paciência. Era precisa muita para conseguir dinamizar uma equipa baseada na juventude, mesclada com experiência e investimento forte em posições fundamentais.

 

Os adeptos tiveram essa paciência. O número de vitórias nos dois primeiros anos foi inferior: 61 em 2012 e 66 em 2013. Mas tudo fazia parte de um plano, de uma estratégia. No primeiro draft com Epstein ao comando, chegou Albert Almora, um dos jogadores que pontuou no décimo inning do jogo sete da World Series.

 

O melhor, ainda assim, estava guardado para os drafts seguintes, com Kris Bryant em 2013 e Kyle Schwarber em 2014. Os dois tiveram um papel absolutamente decisivo na World Series.

 

Fora do draft

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A construção de uma equipa que triunfasse não se podia ficar pelo draft. Em 2015, contratou Joe Maddon para o cargo de treinador, despedindo Rick Renteria, que tinha chegado apenas um ano antes.

 

Ficava a faltar um outro passo decisivo: garantir uma boa rotação de lançadores iniciais. A pedra basilar foi Jon Lester, com quem Epstein tinha sido campeão em 2007 nos Boston Red Sox. O contrato, válido por seis anos, renderá um total acumulado de 155 milhões de dólares ao jogador.

 

Jake Arrieta chegou em 2013, através de uma troca com os Baltimore Orioles, Kyle Hendricks foi trocado pelos LA Angels em 2014 e, em dezembro de 2015, John Lackey assinou um contrato como jogador livre. Juntos, desempenhariam um papel decisivo na temporada.

 

O título chegou cinco anos depois da assinatura do contrato… que era válido por cinco anos. Theo Epstein cumpriu a promessa e a paciência dos adeptos foi recompensada com o título. Resultado? Novo contrato de cinco anos, assinado em setembro, avaliado em 50 milhões de dólares.

 

O que mudou na sua vida desde que começou em 2002? «Agora sou mais velho do que os jogadores. Eles parecem crianças e tratam-me de forma diferente», diz.

 

Com razão: Theo Epstein ainda é novo mas já não é um jovem. É uma lenda com lugar reservado para o hall of fame.