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É Desporto

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19 de Janeiro, 2018

Peggy Fleming. A mulher que recuperou o orgulho americano na patinagem artística

Rui Pedro Silva

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Tinha 12 anos quando o avião que levava a seleção de patinagem para os Mundiais de Praga caiu na Bélgica e matou 18 atletas. Sete anos depois, a norte-americana subiu ao lugar mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos de Grenoble e lançou as sementes para um novo período de glória. 

 

Renascer das cinzas

 

Maribel Vinson-Owen tinha conquistado nove títulos nacionais mas agora era treinadora e viajava com as duas filhas: Laurence Owen tinha apenas 16 anos e acabara de se sagrar campeã nacional de singulares, enquanto Maribel Owen era campeã de pares com Dudley Richards.

 

Não é preciso ir mais longe. O voo que ligava Nova Iorque a Bruxelas a 15 de fevereiro de 1961 tinha a elite da patinagem norte-americana. Os melhores dos melhores, das promessas confirmadas aos talentos experientes. Não faltava ninguém na lista rumo aos Mundiais de Praga, onde os Estados Unidos eram, naturalmente, os maiores candidatos às medalhas.

 

Não faltava ninguém. E não sobreviveu ninguém. Entre atletas, familiares, treinadores e dirigentes, foram 34 vítimas num total de 73.

 

O acidente chocou os Estados Unidos e a patinagem a nível internacional. O Mundial estava prestes a começar e várias equipas já tinham chegada a Praga, onde se iam disputar as provas, mas a federação decidiu cancelar o evento. Não era a melhor altura e era preciso respeitar as vítimas.

 

Travessia no deserto

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Para os Estados Unidos, foi a primeira etapa de um longo caminho rumo à recuperação da hegemonia na modalidade. De 1948 a 1960, os americanos tinham vencido todos os eventos singulares masculinos em Mundiais, tirando um. E tinham sido campeões olímpicos em 1948, 1952, 1956 e 1960.

 

Nos singulares femininos, as americanas também dominavam. Carol Heiss era pentacampeã mundial e só não morreu porque… tinha acabado de se retirar na época anterior. Heiss era também a campeã olímpica em título, sucedendo à compatriota Tenley Albright.

 

Peggy Flemming tinha apenas 12 anos mas sofreu muito mais com o acidente do que se poderia pensar à primeira vista. Afinal, o seu treinador, William Kipp, viajava no avião e tinha sido uma das vítimas.

 

Os Estados Unidos mobilizaram-se a nível interno para arranjar uma forma de ultrapassar este trauma e lançaram um fundo de angariação de dinheiro para dotar os talentos mais jovens das condições necessárias para chegar aos grandes palcos e voltar a vencer.

 

Fleming foi a ponta da lança deste novo período e reconheceu a importância deste fundo no seu sucesso. Com razão.

 

Primeiros títulos do resto das hegemonias

 

Peggy Fleming tornou-se cada vez mais famosa à medida que competia nível nacional e internacional. Em 1965, quatro anos depois daquele dia, tornou-se a primeira americana a vencer uma medalha num Mundial desde o acidente: bronze em Colorado Springs.

 

A partir daí, não deu mais hipóteses. Foi campeã do mundo em 1966 e 1967 e entrou nos Jogos Olímpicos de Grenoble, em 1968, como uma das principais favoritas. Era ali, no grande palco, que os americanos queriam transmitir a mensagem de que não iam desistir, de que havia esperança e de que queriam recuperar a hegemonia que só um acidente os tinha feito perder.

 

E fizeram-no à americana. Com muito drama, emoção e talento à mistura. Peggy Fleming bateu Gabriele Seyfert (RDA) e Hana Maskova (Checoslováquia), proporcionando uma das cerimónias protocolares mais comoventes para os norte-americanos.

 

As bases estavam lançadas. Peggy Fleming terminou a carreira nesse ano, depois de vencer mais um Mundial, mas sentiu que o seu trabalho estava feito. O legado chegaria nos próximos anos, com Dorothy Hamill, que por sua vez abriu espaço para talentos como Kristi Yamaguchi, Nancy Kerrigan, Tonya Hardigan, Michelle Kwan e Tara Lipinski.

 

A patinagem voltara a ser norte-americana.

RPS