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É Desporto

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09 de Janeiro, 2019

O contributo multidimensional de Pepe no FC Porto

Rui Pedro Silva

Pepe voltou ao FC Porto

O mercado de janeiro acabou de reabrir mas dificilmente haverá uma transferência de inverno com maior impacto do que o regresso de Pepe ao FC Porto. O internacional português pode ter 35 anos – fará 36 no próximo mês – mas continua a mostrar que consegue competir ao mais alto nível e será um recurso muito valioso para Sérgio Conceição durante a segunda metade da temporada.

 

A oportunidade de reaver o central, onze anos e meio depois de ter saído com grande lucro para o Real Madrid, pode não ter parecido uma prioridade mas o contributo de Pepe será multidimensional e dificilmente haverá um «contra» na análise a esta contratação.

 

Hoje, Pepe está mais maduro, mais inteligente e muito mais experiente do que quando saiu. Está também mais calmo. Foi-se assumindo como uma pedra basilar da seleção portuguesa e regressa ao Dragão inconformado mas com o sentimento de dever cumprido.

 

Não há outra forma de ver as coisas: se Pepe decidisse acabar a carreira ao rescindir com o Besiktas, o balanço já teria sido fantástico. Euro-2016 com Portugal, dois campeonatos com o FC Porto, três com o Real Madrid e três Ligas dos Campeões são apenas os pontos mais brilhantes de uma carreira que tem mais títulos domésticos, europeus e mundiais para acrescentar.

 

Mas Pepe sente-se em condições e decidiu continuar a jogar. E escolheu o FC Porto. No Dragão, será uma opção de luxo para Sérgio Conceição. Caso esteja interessado, o técnico pode blindar a baliza de Casillas com um quarteto defensivo de luxo composto por Éder Militão, Pepe, Felipe e Alex Telles.

 

Este quarteto defensivo nascido no Brasil (algo que num grande só tinha acontecido no Benfica de Ronald Koeman com Alcides, Anderson, Luisão e Léo) ajuda a suprir as dificuldades que a equipa tem sentido no lado direito da defesa e aumenta a qualidade de um setor que arrancou a época com o jovem Diogo Leite a «desenrascar».

 

Muito mais do que uma opção em campo

Vítor Baía era a maior referência do plantel quando Pepe chegou

O contributo de Pepe está longe de se esgotar em campo. A sua entrada para o plantel é também um sinal de que a crise de identidade e de mística que o FC Porto sofreu, sobretudo durante o tetracampeonato conquistado pelo Benfica, está ultrapassada.

 

Neste momento, Herrera é o jogador com mais épocas consecutivas no plantel (desde 2013) e até ao ano passado não tinha conquistado um único título. Esta falta de liderança clara tinha-se acentuado com a saída de Helton em 2017 e só a contratação de Sérgio Conceição para o cargo de treinador ajudou a reequilibrar o panorama.

 

Os dados não deixam dúvidas. Helton era o jogador há mais tempo no plantel quando deu lugar a Herrera, e recebeu esse testemunho de Vìtor Baía, que por sua vez o tinha recebido de Aloísio, que o tinha recebido de João Pinto. Entre estes jogadores, a mística foi sendo sempre assegurada e transposta de geração em geração como forma de garantir que o «ser Porto» era uma realidade e não apenas um lugar-comum debitado por Nuno Espírito Santo em conferências de imprensa.

 

Pepe sabe o que é «ser Porto» e tem a experiência necessária para servir de elemento-chave no plantel. É um nome sonante como Iker Casillas com o bónus de já ter passado pelo clube, de ter conquistado seis títulos em três anos e de se ter estreado numa Supertaça Europeia.

 

Quando Pepe era um novato, em 2004/05, a época pode não ter sido favorável mas tinha referências claras no plantel: Vítor Baía, Jorge Costa e, se quisermos alargar um pouco mais o espectro, Costinha.

 

A liderança nunca esteve em causa. Agora também não está mas há novamente um nome capaz de lançar as sementes na nova fornada de jogadores que estão a evoluir no Dragão e que poderão assumir-se como referências no futuro.

 

Pepe pode ser uma opção de luxo para Sérgio Conceição mas não era um reforço indispensável. Pode ser um nome sonante para aumentar o prestígio e a projeção internacional do clube mas para isso também há Casillas. O certo é que ninguém como ele poderá vestir tão bem o papel de referência e transportador da mística do que é «ser Porto». Só isso já valerá o investimento.