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É Desporto

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18 de Setembro, 2019

Mamuka Gorgodze. O georgiano que seduziu o mundo com um sorriso

Rui Pedro Silva

Mamuka Gorgodze

Joga na posição oito mas foi um verdadeiro pilar da Geórgia durante o Mundial-2015. Decisivo no triunfo surpreendente contra o Tonga, logo no segundo jogo da competição, ganhou uma fama internacional ao conquistar a distinção de melhor jogador em campo no duelo contra a Nova Zelândia, em Cardiff.

Havia quem lhe chamasse Gorgodzilla. Outros preferiam uma versão menos assustadora e optavam por Gulliver. O indesmentível é que Mamuka Gorgodze era um jogador de dimensões intimidantes: 196 centímetros e 118 quilos.

A Geórgia que apareceu a disputar o Mundial-2015 em Inglaterra (e Gales) era uma seleção discreta. Habituada a pulular nas divisões inferiores da Europa, tinha qualidade suficiente para aparições regulares em fases finais. Estreou-se em 2003 e perdeu os quatro jogos. Nas edições seguintes, em 2007 e 2011, somou um triunfo em cada mas nem por isso se percebia declaradamente a evolução.

Quando, em 2015, apareceu em força contra o Tonga – uma seleção vista como muito mais favorita ao triunfo -, os olhos do mundo do râguebi esbugalharam perante a surpresa. O triunfo (17-10) nunca esteve em causa e beneficiou do ensaio de Mamuka Gorgodze aos 27 minuto. O número oito da Geórgia ostentava a braçadeira de capitão, começou a mostrar que era um verdadeiro líder e recebeu pela primeira vez na prova a distinção de homem do jogo.

O peso de Gorgodze na estratégia da Geórgia era muito maior do que os 118 quilos do seu corpo. E isso foi facilmente verificável na segunda jornada, durante a derrota com a Argentina. Quando o capitão viu o cartão amarelo aos 45 minutos, os Lelos estavam na luta pelo resultado e perdiam apenas por 9-14. Dez minutos depois, quando regressou, a derrota era mais do que certa (9-35).

Gorgodze defrontou os All Blacks noutra posição

O verdadeiro momento de Gorgodze no Mundial foi, ainda assim, o que aconteceu a 2 de outubro de 2015, contra os All Blacks, em Cardiff. Uma vez mais, ninguém acharia que a Geórgia pudesse oferecer uma verdadeira réplica aos maiores favoritos, mas Gorgodze deu o que tinha e o que não tinha, inspirando uma nação inteira.

Não conseguiu qualquer ensaio. E a Geórgia nem sequer esteve perto de disputar o encontro (10-43), mas a determinação de Mamuka já o tinha catapultado para a fama. Apesar de ter jogado apenas 48 minutos, foi eleito o melhor jogador da partida e recebeu a notícia com a maior humildade e descontração possível quando as câmaras se fixaram na sua cara.

Mamuka Gorgodze foi avisado pelos colegas, olhou para o ecrã gigante, olhou para a câmara e, com um sorriso envergonhado reagiu como se não percebesse muito bem aquilo que se estava a passar, acabando com um encolher de ombros. «Eu?! A sério?! Bom, vocês é que sabem», teria sido a legenda perfeita para aquela imagem.

O público reagiu ao momento com uma enorme ovação. Ali, naquele momento, já ninguém duvidava da capacidade de Gorgodze para conquistar os corações dos amantes do desporto. Na despedida, cinco dias depois, o líder voltou a mostrar a sua importância em campo e conseguiu o ensaio que lançou a Geórgia para o triunfo sobre a Namíbia (17-16).

Os números finais de Gorgodze na competição (dois ensaios, 41 placagens, 65 metros de avanço com bola e um alinhamento roubado) não são suficientes para explicar o efeito que teve naquela competição. Mais do que um Gorgodzilla sem destruição, foi um Gulliver inspirador, capaz de seduzir o mundo inteiro com um sorriso.