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É Desporto

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06 de Fevereiro, 2018

Irmãs Goitschel. Brincar ao ouro nos Jogos Olímpicos

Rui Pedro Silva

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Christine e Marielle chegaram a Innsbrück em 1964 com aspirações legítimas no esqui alpino e tornaram-se a primeira dupla de irmãs na história dos Jogos Olímpicos a fazer a dobradinha, no slalom. Não satisfeitas, repetiram a façanha no slalom gigante mas com as posições invertidas. 

 

Vamos fazer o que ainda não foi feito

 

Nasceram em 1944 e 1945 e são «filhas» da Segunda Guerra Mundial. Christine e Marielle não demoraram muito a dar nas vistas no esqui alpino em França e, apesar de serem ainda muito novas, chegaram aos Jogos Olímpicos de Innsbrück, em 1964, com boas hipóteses de conseguir resultados no pódio.

 

Dois anos antes, a dupla já tinha deixado um sinal do que poderia fazer, ao conquistar a dobradinha ouro-prata no campeonato nacional de slalom, com Christine a subir ao lugar mais alto do pódio. Ali, a 1 de fevereiro de 1964, estavam a caminho de repetir a façanha.

 

Marielle foi a primeira das atletas a fazer-se à pista. Tinha apenas 18 anos mas não olhou para trás no momento de ziguezaguear entre portas e estabelecer um tempo supersónico de 43,09 segundos. Foi a mais rápida da manga e só outra atleta conseguiu baixar da marca dos 44 segundos: a irmã Christine, com 43,85.

 

Mas faltava a segunda manga. Aí, a experiência de Christine, numa prova ligeiramente mais longa, fez a diferença. A irmã mais velha ganhou mais de um segundo e meio e terminou com a medalha de ouro, com 91 centésimos de vantagem sobre Marielle.

 

As Goitschel tinham acabado de fazer história: eram a primeira dupla de irmãs a terminar nos primeiros dois lugares de uma prova olímpica.

 

Déjà-vu a caminho

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Christine e Marielle não estavam satisfeitas e tinham uma nova prova, a do slalom gigante, no calendário. Apenas dois dias depois, numa competição com apenas uma corrida, fizeram questão de repetir a façanha.

 

A campeã olímpica foi a primeira a sair para a pista e fez um tempo de 1:53,11, entretanto igualado pela norte-americana Jean Saubert, que havia sido medalha de bronze no slalom. Mas quando Marielle atacou a prova, deixou de haver dúvidas sobre quem seria a rainha da competição, conquistando a medalha de ouro com 1:52,24.

 

A história reescrevia-se a cada prova. Não só tinham feito a primeira dobradinha de irmãs como tinham acabado de repetir a proeza, apenas dois dias depois, e com a ordem inversa, para que ninguém se pudesse queixar.

 

Apesar de tudo, Marielle viu sempre o título da irmã mais velha como o melhor momento dos Jogos Olímpicos: «Nem quando ganhei o slalom gigante fiquei tão feliz. Aquele instante foi único, foi a primeira vez. Foram os dois ou três minutos mais fantásticos das nossas vidas».

 

A proeza correu França e mereceu honras de elogio por parte do presidente Charles de Gaulle: «As senhoras devem saber que toda a gente se sente orgulhosa dos vossos triunfos».

 

O rescaldo de Innsbrück-1964

 

As irmãs Goitschel eram muito jovens na primeira participação olímpica e podia esperar-se que a carreira de ambas pudesse continuar por vários anos. Mas não foi bem assim, por culpa do azar. Christine partiu o tornozelo em 1966 e nem sequer chegou a ir aos Jogos Olímpicos seguintes, em Grenoble-1968, por culpa das sucessivas lesões. Já Marielle ainda teve a oportunidade para conquistar o ouro que lhe tinha sido roubado pela irmã quatro anos antes.

 

A mais nova das duas também acabou a carreira em 1968, tal como Christine, mas com três medalhas olímpicas e onze medalhas mundiais (sete de ouro e quatro de prata) no currículo.

 

Pelo meio, uma terceira irmã, Patricia, também tentou a sua sorte, sem grande sucesso internacional, pelo menos diretamente. Chegou a ser campeã nacional júnior em 1964 mas nunca conseguiu sair da sombra das irmãs. Já o seu filho, Philippe Goitschel, soube prolongar a tradição familiar e foi segundo nos Jogos Olímpicos de Albertville-1992, na modalidade de demonstração de esqui de velocidade.

RPS