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É Desporto

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15 de Janeiro, 2018

Dan Jansen. Nada é mau o suficiente que não possa piorar

Rui Pedro Silva

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Norte-americano era favorito nos 500 e 1000 metros na patinagem de velocidade mas a notícia de que a irmã morrera, no dia da primeira final, foi um choque que não conseguiu ultrapassar. Dan caiu nas duas provas e só conseguiu a redenção seis anos mais tarde, em Lillehammer. 

 

Uma má notícia nunca vem só

 

Domingo, 14 de fevereiro de 1988. Dan Jansen tem 22 anos e está entre os grandes favoritos da seleção dos Estados Unidos de patinagem de velocidade a vencer o título dos 500 metros nos Jogos Olímpicos de Inverno de Calgary.

 

A segunda participação olímpica tinha tudo para ser coroada com êxito, depois de ter falhado a medalha de bronze nos 1000 metros em Sarajevo-1984 por uma unha negra, mas transformou-se numa espiral negativa de acontecimentos traumáticos, em que o desporto foi relegado para segundo plano.

 

Jansen tinha acabado de se sagrar campeão do mundo mas o ambiente na família (Dan é um de nove filhos) estava longe de ser de festa. Tudo porque a irmã Jane, cinco anos mais velha, sofria de leucemia.

 

O choque chegou por telefone, uma hora antes da final. Jane tinha morrido. Dan tentara falar uma última vez com a irmã mas não obtivera qualquer resposta. Agora estava ali, no Canadá, longe da família, a lutar por um título olímpico que lhe parecia cada vez mais irrelevante.

 

Dan podia ter o talento nas pernas mas a cabeça não o acompanhou. Estava noutra, distante, incapaz de se concentrar na corrida. Não fosse a motivação dada pela família, nem sequer iria competir.

 

Mas competiu. E caiu. Dias depois, agora na prova dos 1000 metros, Dan estava outra vez entre os principais candidatos e conseguiu um arranque mais rápido do que o do recorde mundial mas, mais uma vez, caiu. Receber o prémio de espírito olímpico foi uma fraca consolação para quem tinha tido a pior semana da sua vida.

 

Redenção seis anos mais tarde

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Dan Jansen prosseguiu a carreira mas sem grande sucesso. Nos Jogos Olímpicos de Albertville-1992, em França, não foi além de um quarto lugar nos 500 metros e de um 26.º nos 1000 metros. Mas, de certo modo, o atleta sabia que havia algo por alcançar, que a sua luta não tinha acabado ali e que todo o impulso dado por Jane no início da sua carreira teria um significado no fim.

 

A história mudou em 1994, na Noruega, nos Jogos de Lillehammer. Uma vez mais, Jansen entrou em competição como campeão mundial e entre os favoritos. Tinha 28 anos – mais do que é habitual entre os patinadores de velocidade – mas não se deixou atemorizar pelas estatísticas.

 

Nos 500 metros, prova onde sempre fora melhor, acabou em oitavo mas os 1000 metros contaram uma história diferente. A 18 de fevereiro, seis anos e quatro dias depois da morte da irmã, Dan Jansen fez uma corrida para a história e conquistou a medalha de ouro ao mesmo tempo que estabeleceu um novo recorde mundial.

 

No momento dos festejos, Dan foi à bancada buscar a filha mais nova. Jane, tal como a tia.

RPS