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É Desporto

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19 de Maio, 2019

Charmaine Hooper. A jogadora mais amarelada em Mundiais

Rui Pedro Silva

Charmaine Hooper

A sua missão pelo Canadá era marcar golos mas o balanço feito depois de jogar em três fases finais demonstra que viu mais vezes o cartão amarelo (cinco) do que festejou (quatro). Ser admoestada cinco vezes em três fases finais não é necessariamente mau mas a estatística demonstra que nenhuma outra jogadora conseguiu igual feito. Oficialmente, é a jogadora mais indisciplinada (no que a amarelos diz respeito) na história das fases finais.

 

Há um lugar-comum muito utilizado por treinadores que garante que as faltas existem para serem feitas. Ver um cartão amarelo durante um jogo pode ser consequência de muitas coisas e os técnicos adoram quando é provocado pela chamada «falta útil». Mas a miríade de razões é interminável: protestos, simulação, palavras ao árbitro, tirar a camisola durante um festejo, uma entrada mais dura ou simplesmente entrar no campo sem autorização do árbitro.

 

Ter muitos amarelos não é sinal claro de nada. João Vieira Pinto, por exemplo, via muitos amarelos por simulação, apesar de também gostar de molhar a sopa. Cléber, que passou por Belenenses e V. Guimarães entre 2000 e 2006, tem um registo impressionante: 90 amarelos e doze vermelhos em seis temporadas.

 

E o que dizer do Mundial de futebol feminino? Mia Hamm, a histórica norte-americana famosa pelos golos que marcava, foi a primeira jogadora a ver um amarelo em fases finais, aos 24 minutos da vitória sobre a Suécia (3-2) a 17 de novembro de 1991. Quatro dias depois, foi uma taiwanesa a entrar na história, Hui-fang Lin, ao receber o primeiro vermelho, logo aos seis minutos de um jogo em que Taiwan até acabaria por vencer a Nigéria (2-0).

 

Charmaine Hooper marcava golos como Mia Hamm (71 em 128 jogos pelo Canadá) e não era apenas uma ilustre desconhecida como Hui-fang Lin. Quando se estreou em fases finais, em 1995, já a canadiana brilhara na Europa, com uma passagem impressionante na Noruega e outra em Itália, na Lazio.

 

Internacional desde 1986, num jogo contra os Estados Unidos, Hooper chegou ao Suécia-1995 com 27 anos. Era uma das jogadoras mais experientes da equipa mas não conseguiu contribuir com golos. O Canadá até marcou cinco, mas nenhum foi de Hooper. Em sentido contrário, despediu-se com um amarelo na goleada sofrida com a Noruega (0-7).

 

Quatro anos depois, chegaram os golos e… continuaram os amarelos. Fez o 2-0 para os amarelos logo aos cinco minutos de prova, no empate com o Japão (1-1) e esperou pelo jogo da Noruega para marcar finalmente. O Canadá voltou a sofrer sete golos, tal como em 1995, mas desta vez Charmaine Hooper, a jogar com a camisola 10 em vez da 3, conseguiu um golo de honra para as canadianas. No jogo de despedida (derrota 1-4) com a Rússia, a jogadora voltou a marcar e não viu qualquer amarelo, equilibrando a contenda especial em dois amarelos e dois golos em fases finais.

 

O Mundial-2003 foi o da sua despedida. Com Even Pellerud como selecionador, o Canadá mostrou estar bastante melhor e saiu dos Estados Unidos com o quarto lugar. A abrir, em Columbus, Charmaine Hooper não marcou mas viu o cartão amarelo que protagonizou um momento histórico: penálti para a Alemanha para Bettina Wiegmann converter e tornar-se a primeira jogadora da história a marcar em quatro fases finais, no seu sétimo penálti marcado.

 

Quatro dias depois, Hooper vingou-se e marcou de penálti à Argentina (3-0) num jogo em que ficou com o registo disciplinar imaculado. Estava 3-3 nesta altura e assim continuou até ao final da fase de grupos. Faltava a fase a eliminar, naqueles que seriam os últimos jogos de Hooper em fases finais.

 

Nos oitavos com a China (2-0), Hooper fez algo que ainda não tinha feito: marcou, aos sete minutos, e viu um cartão amarelo, aos 76 minutos. Foi o seu último golo em fases finais mas ainda haveria mais uma admoestação a caminho.

 

No jogo de atribuição do terceiro lugar, contra as vizinhas dos Estados Unidos, a 11 de outubro, Charmaine Hooper viu o quinto cartão amarelo da sua carreira em fases finais e despediu-se como rainha dos cartões. Até hoje, nenhuma outra jogadora chegou a essa marca.