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É Desporto

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13 de Novembro, 2018

Shohei Ohtani. Um Babe Ruth dos tempos modernos

Rui Pedro Silva

Shohei Ohtani

Era uma sensação no seu país e entrou na MLB sob o olhar atento de todos. A capacidade para jogar simultaneamente como lançador e batedor serviu de semente para as comparações com Babe Ruth e, apesar de uma época marcada por lesões, chega ao final da temporada com o prémio de rookie do ano da Liga Americana.

 

Houve 30 pessoas a votar e 25 não tiveram dúvidas no momento de escolher o japonês de 24 anos como melhor rookie. A estatística não mente mas pode ser enganadora: Shohei Ohtani terminou a época com uma média batedora de .285, com 93 hits e 22 home runs. Atrás dele, Miguel Andújar registou uma média de .297 com 170 hits e 27 home runs e Gleyber Torres acabou com uma média de .271 com 117 hits e 24 home runs.

 

A diferença é que Ohtani contribuiu de outra forma. Além de ser um batedor temível, fez também a diferença como lançador. Em dez jogos em que surgiu como o pitcher titular dos LA Angels, Ohtani venceu quatro jogos (perdeu dois e em dois não houve decisão enquanto esteve em campo), permitindo um ERA (pontos ao adversário por nove innings lançados) de 3,31, num total de 51,2 innings lançados e 63 adversários eliminados por strikes.

 


Confuso? Talvez haja uma estatística esmagadora que ajude a perceber a dimensão da temporada de Shohei Ohtani. O japonês tornou-se apenas o segundo jogador da história a conseguir um mínimo de 15 home runs e a lançar pelo menos 50 innings. Qual foi o primeiro? Um tal de George Hermann Ruth, mundialmente conhecido por… Babe Ruth.

 

A distinção não apaga a parte negativa da temporada. Ohtani foi sofrendo com problemas no cotovelo e foi operado no início do defeso. Este tipo de operações, conhecidas por Tommy John, têm um processo de recuperação demorado e, mesmo que volte a bater pelos Angels na próxima época, Ohtani só deverá voltar a iniciar um jogo como lançador em 2020.

 

A decisão como reality show

Shohei OhtaniShohei Ohtani era um fenómeno no basebol japonês e a possibilidade de poder jogar nos Estados Unidos abriu caminho para uma onda imparável de especulação. Poderia ser como Babe Ruth? Conseguiria um jogador ser igualmente decisivo a lançar e a bater? Como seria gerido um jogador com estas características? Que equipas teriam capacidade para atrair um jogador com este talento?

 

Não houve na MLB quem não tentasse recrutar os serviços de Ohtani depois de a MLB e a liga japonesa terem chegado a acordo para a ida do jogador para os Estados Unidos. Como era menor de 25 anos, teria de assinar um contrato de rookie e, como tal, submeter-se ao processo de recrutamento dos rookies. Ou seja, qualquer equipa poderia ter hipótese. Financeiramente, entenda-se, porque desportivamente Ohtani tinha uma ideia fixa.

 

Equipas históricas como Red Sox e Yankees foram excluídas rapidamente. Eram da costa Este e Ohtani queria preservar o seu legado, garantindo que a diferença horária dos seus jogos para o Japão não fosse muito grande. Perante tanto interesse, Ohtani reduziu a lista de hipóteses a sete equipas: cinco ficavam junto ao Pacífico (LA Angels, LA Dodgers, San Francisco Giants, San Diego Padres e Seattle Mariners) e duas já implicavam uma aventura (Texas Rangers e Chicago Cubs).

 

Ohtani também queria garantias. Queria poder jogar como batedor e como lançador. Queria uma solução de compromisso que lhe permitisse manter e prolongar o seu legado como jogador único para os moldes modernos. Os Angels ganharam a corrida e tornaram-se rapidamente uma equipa a não perder. Mike Trout, discutivelmente o melhor jogador da década na MLB, tornou-se uma atração secundária: não havia quem não quisesse saber mais sobre Ohtani durante a pré-época.

 

O arranque foi promissor. Fez um hit na primeira vez que foi bater e, dias depois, ganhou na estreia como lançador. Os home runs apareceram nos jogos seguintes e as comparações com Babe Ruth começaram a ter uma base de sustentação aceitável.

 

Quando tudo parecia correr de forma perfeita, as lesões reapareceram e afetaram uma época que tinha tudo para ser memorável. Agora, o prémio de rookie do ano é uma fraca consolação mas que confirma o seu estatuto de fenómeno raro.